sexta-feira, 29 de julho de 2011

PARA LER E PENSAR - PALAVRAS DE OSHO

Depressão
Posted: 28 Jul 2011 06:39 PM PDT
Sempre que você estiver deprimido, espere pelo momento em que a depressão for embora. Nada dura para sempre: a depressão irá embora. E quando ela o deixar, espere. Fique alerta e perceptivo, porque depois da depressão, depois da noite, virá a madrugada e o sol irá brilhar.

Se você puder estar alerta nesse momento, ficará feliz por ter estado deprimido. Ficará grato por estar deprimido porque foi apenas devido à sua depressão que esse tesouro de felicidade se tornou possível.

Em vez disso, o que fazemos em geral? Nos movemos em um ciclo de regressão infinita. Primeiro, ficamos deprimidos. Depois, ficamos deprimidos por causa da depressão, e surge uma segunda depressão.

Se você estiver deprimido, não há problemas! Não há nada de errado nisso. É belo porque, através disso, você irá aprender e amadurecer. Mas se você começar a se sentir mal e pensar: "Por que estou deprimido? Não deveria estar deprimido", nesse caso, você irá começar a brigar com a depressão.

A primeira depressão é boa, mas a segunda depressão é irreal. E essa depressão irreal irá turvar sua mente. Você deixará escapar o momento que teria se seguido à primeira depressão.

Quando ficar deprimido, simplesmente fique deprimido. Não fique deprimido por causa de sua depressão. Não lute contra ela, não crie uma saída de emergência, não force a sua depressão a partir.

Apenas deixe que ela aconteça, pois partirá por conta própria. A vida é um fluxo: nada permanece o mesmo. Você não é necessário, o rio se move por conta própria, não é preciso empurrá-lo.

Se você está tentando empurrar o rio, você é um tolo. O rio flui por si mesmo. Deixe-o fluir.

Osho, em "Osho de A a Z: Um Dicionário Espiritual do Aqui e Agora"
Imagem por Dr. Feel Good

domingo, 24 de julho de 2011

PARA LER E PENSAR - PALAVRAS DE OSHO

Até a tristeza pode se tornar um florescimento
Posted: 23 Jul 2011 04:30 PM PDT
Pergunta a Osho:
Vejo-me muitas vezes mergulhado em tristeza ao pensar em deixar esta vida. O que posso fazer?
A tristeza é triste porque você não gosta dela. Ela é triste porque você não gosta de senti-la. Ela é triste porque você a rejeita. Até a tristeza pode se tornar um florescimento de grande beleza, de silêncio e profundidade, se você gostar dela.

Nada é errado. É assim que tem de ser, ser capaz de gostar de tudo o que acontece, até da tristeza. Até a morte tem de ser amada; só assim você conseguirá transcendê-la. Se conseguir aceitar a morte, se conseguir amá-la e recebê-la bem, a morte não pode matar você; você a transcendeu.

Quando a tristeza vier, aceite-a. Ouça a sua canção. Ela tem algo para lhe dar. Trata-se de uma dádiva que felicidade nenhuma pode lhe oferecer; só a tristeza pode.

A felicidade é sempre superficial; a tristeza é sempre profunda. A felicidade é como uma onda; a tristeza é como as profundezas do oceano. Na tristeza, você fica consigo mesmo, sozinho. Na felicidade, você começa a acompanhar outras pessoas e começa a compartilhar. Na tristeza, você fecha os olhos e mergulha fundo dentro de si mesmo.

A tristeza tem uma canção... ela é um fenômeno extremamente profundo.

Aceite-a. Aproveite-a. Prove-a sem nenhuma rejeição e você verá que ela lhe traz muitas dádivas que nenhuma felicidade pode trazer.

Se você conseguir aceitar a tristeza, ela deixa de ser tristeza; você dá um novo caráter a ela. Você crescerá por meio dela. Ela não será mais uma pedra, uma rocha no caminho, bloqueando a passagem; ela será um passo.

E lembre-se sempre: aquele que nunca sentiu uma tristeza profunda é uma pessoa pobre. Ele nunca terá riqueza interior. A pessoa que sempre viveu feliz, sorrindo, com frivolidade, não entrou no templo interior do seu ser. Ela não conhece o santuário interior.

Seja sempre capaz de ir para todas as polaridades. Quando a tristeza vier, fique realmente triste. Não tente fugir dela – permita-a, coopere com ela. Deixe que ela se dissolva em você e você se dissolverá nela. Deixe que você e ela sejam uma coisa só. Fique realmente triste: sem resistência, sem conflito e sem luta.

Quando a felicidade vier, fique feliz: dance e fique extasiado. Quando a felicidade vier, não tente se agarrar a ela. Não diga que ela tem de durar para sempre; assim você a perderá. Quando a tristeza vier, não diga: "Não venha", ou "Se tem de vir, por favor venha logo". Assim você deixa de aproveitá-la.

Não rejeite a tristeza e não se apegue à felicidade.

Logo você entenderá que a felicidade e a tristeza são dois aspectos da mesma moeda. Então você verá que a felicidade também traz em si uma tristeza e a tristeza traz em si uma felicidade.

Então o seu interior fica mais rico. Você pode desfrutar de tudo: da manhã e do entardecer também, da luz do dia e da escuridão da noite, do dia e da noite, do verão e do inverno, da vida e da morte – você pode desfrutar de tudo.

Osho, em "O Livro do Viver e do Morrer: Celebre a Vida e Também a Morte"
Imagem por tanakawho

sábado, 16 de julho de 2011

PARA LER E PENSAR - PALAVRAS DE OSHO

Ame a si mesmo e observe
Posted: 15 Jul 2011 07:15 PM PDT
Perguntaram a Osho:
Você pode falar alguma coisa sobre essas belas palavras de Buda:
“Ame a si mesmo e observe – hoje, amanhã, sempre”?
”Ame a si mesmo”...
O amor é o alimento da alma. Assim como a comida é para o corpo, o amor é para a alma. Sem comida o corpo enfraquece, sem amor a alma enfraquece. E nenhum estado, nenhuma igreja e nenhum interesse investido jamais quiseram que as pessoas tivessem almas fortes porque uma pessoa com energia espiritual está fadada a ser rebelde.

O amor lhe faz rebelde, revolucionário. O amor lhe dá asas para voar alto. O amor lhe dá insight nas coisas, assim ninguém pode lhe enganar, lhe explorar, lhe oprimir. E os padres e os políticos só sobrevivem com o seu sangue – eles só sobrevivem na exploração. Eles são parasitas, todos os sacerdotes e todos os políticos.

Para lhe tornar espiritualmente fraco eles descobriram um método seguro, cem por cento garantido, e esse é ensinar a você a não amar a si mesmo – porque se um homem não pode amar a si mesmo ele também não pode amar mais ninguém. O ensinamento é muito ardiloso. Eles dizem: Ame os outros – porque eles sabem que se você não puder amar a si mesmo você não pode amar de maneira nenhuma. Mas eles continuam dizendo: Ame os outros, ame a humanidade, ame a Deus, ame a natureza, ame sua esposa, seu marido, seus filhos e seus pais, mas não ame a si mesmo, porque, segundo eles, amar a si mesmo é egoísta.

Eles condenam o amor-próprio mais do que qualquer outra coisa – e eles fizeram seu ensinamento parecer muito lógico. Eles dizem: Se você amar a si mesmo você se tornará um egoísta, se você amar a si mesmo você se tornará um narcisista. Isso não é verdade. Um homem que ama a si mesmo descobre que não existe nenhum ego nele. É amando os outros sem amar a si próprio, é tentando amar os outros que o ego surge.

O amor nada sabe de dever. Dever é um fardo, uma formalidade. Amor é uma alegria, um compartilhar; o amor é informal. O amante nunca sente que ele fez o bastante; o amante sempre acha que mais é possível. O amante nunca sente, ‘Eu favoreci o outro’. Pelo contrário, ele sente, ‘Devido a que meu amor foi recebido, estou agradecido. O outro me favoreceu por receber meu presente, não o rejeitando’. O homem do dever pensa, ‘Sou mais elevado, espiritual, extraordinário. Vejam como eu sirvo as pessoas’!

Um homem que ama a si mesmo respeita a si mesmo e um homem que ama e respeita a si próprio respeita os outros também, porque ele sabe, ‘Assim como eu sou, os outros também são. Assim como gosto do amor, respeito, dignidade, os outros também gostam’. Ele se torna cônscio de que não somos diferentes, no que diz respeito ao essencial, nós somos um. Estamos debaixo da mesma lei: Aes dhammo sanantano*.

O homem que ama a si mesmo desfruta tanto do amor, se torna tão contente, que o amor começa a transbordar, começa a alcançar os outros. Tem que alcançar! Se você vive o amor, você começa a compartilhá-lo. Você não pode continuar a amar a si mesmo para sempre porque uma coisa ficará absolutamente clara para você: que se amando uma pessoa, você mesmo, é um êxtase tão tremendo e tão belo, tanto mais êxtase está esperando por você se você começar a compartilhar seu amor com muitas pessoas!

Lentamente as ondulações começam a se expandir cada vez mais longe. Você ama outras pessoas; então você começa a amar os animais, os pássaros, as árvores, as pedras. Você pode preencher todo o universo com o seu amor. Um simples indivíduo é suficiente para encher todo o universo com amor, assim como um simples seixo pode encher todo o lago de ondulações – um pequeno seixo.

O homem precisa se tornar um deus. A menos que o homem se torne um deus não poderá haver nenhum preenchimento, nenhum contentamento. Mas como é que você pode se tornar um deus? Seus sacerdotes dizem que você é um pecador. Seus sacerdotes dizem que você está condenado, que você está destinado a ir para o inferno. E eles lhe tornam muito temeroso de amar a si mesmo.

Eis porque as pessoas são tão eficientes em descobrir defeitos. Elas encontram defeitos em si mesmas – como é que elas podem evitar encontrar os mesmos defeitos nos outros? Na verdade, elas irão encontrá-los e irão engrandecê-los, irão torná-los tão grandes quanto possível. Esse parece ser o único meio de defesa; de alguma maneira, para salvar as aparências. Você precisa fazer isso. Eis porque existe tanta crítica e tanta falta de amor.

Digo que esse é um dos mais profundos sutras de Buda, e só uma pessoa desperta pode lhe dar um tal insight.

A pessoa que ama a si própria pode facilmente se tornar meditativa, porque meditação significa estar consigo mesmo.

Se você odeia a si mesmo – como você faz, como foi dito a você para fazer, e você tem seguido isso religiosamente – se você odeia a si próprio, como é que você pode ficar consigo mesmo? A meditação não é outra coisa senão desfrutar de sua bela solitude e celebrar a si próprio. Eis o que é toda a meditação. A meditação não é um relacionamento. O outro não é absolutamente necessário; somos suficientes para nós mesmos. Somos banhados em nossa própria glória, banhados em nossa própria luz. Estamos simplesmente alegres porque estamos vivos, porque somos.

O maior milagre do mundo é que você é e que eu sou. Ser é o maior milagre e a meditação abre as portas desse grande milagre. Mas só o homem que ama a si próprio pode meditar; do contrário você está sempre fugindo de si mesmo, evitando a si mesmo. Quem quer olhar para um rosto feio e quem quer penetrar num ser feio? Quem quer se aprofundar na própria lama, na própria escuridão? Quem vai querer entrar no inferno que pensam que estão? Você quer manter essa coisa toda coberta com lindas flores e você vai querer sempre fugir de si mesmo.

Desse modo as pessoas estão continuamente procurando companhia. Elas não podem ficar consigo mesmas; elas querem estar com os outros. As pessoas estão buscando qualquer tipo de companhia; se elas puderem evitar a companhia de si próprios qualquer coisa servirá. Elas se sentarão numa sala de cinema por três horas vendo alguma coisa totalmente estúpida. Elas irão ler uma novela de detetives por horas, desperdiçando seu tempo. Elas irão ler o mesmo jornal repetidamente apenas para ficarem ocupados. Elas irão jogar baralho e xadrez só para matar o tempo... Como se elas tivessem tempo de sobra!

O amor começa com você mesmo, assim ele pode se espalhar. Ele vai se espalhando a sua própria maneira; você não precisa fazer nada para espalhá-lo.

"Ame a si mesmo...", diz Buda. E então imediatamente ele acrescenta: "... e observe". Isso é meditação, esse é o nome de Buda para a meditação. Mas a primeira condição é amar a si mesmo, e então observe. Se você não amar a si mesmo e começar a observar, você pode se sentir como que cometendo suicídio.

Muitos Budistas se sentem como que cometendo suicídio porque eles não dão atenção à primeira parte do sutra, eles imediatamente saltam para a segunda parte: observe a si mesmo. Na verdade, nunca encontrei um simples comentário sobre o o Dhammapada, esses sutras do Buda, que desse alguma atenção à primeira parte: Ame a si mesmo.

Sócrates diz: Conhece a ti mesmo, Buda diz: Ame a si mesmo. E Buda é muito mais verdadeiro porque a menos que você ame a si próprio você nunca conhecerá a si mesmo – conhecer só vem mais tarde, o amor prepara o terreno. Amar é a possibilidade de conhecer a si mesmo. O amor é a maneira certa de conhecer a si mesmo.

“Ame a si mesmo e observe… hoje, amanhã, sempre”.

Crie energia ao redor de si mesmo. Ame seu corpo e ame sua mente. Ame todo seu mecanismo, todo seu organismo. Por amar significa: aceitar isso como isso é, não tente reprimir. Nós reprimimos somente quando odiamos alguma coisa, reprimimos somente quando somos contra alguma coisa. Não reprima porque se você reprimir como é que você vai observar? Não podemos fitar o inimigo olho no olho; podemos somente olhar nos olhos de nosso amado. Se você não for um amante de si mesmo você não será capaz de olhar nos seus próprios olhos, na sua própria face, na sua própria realidade.

Observar é meditação, o nome de Buda para a meditação. Observe diz Buda. Ele diz: Esteja cônscio, alerta, não fique inconsciente. Não se comporte como que dormindo. Não continue funcionando como uma máquina, como um robô. É assim que as pessoas estão vivendo.

Observe – apenas observe. Buda não diz o que deve ser observado – tudo! Caminhando, observe o seu caminhar. Comendo, observe o seu comer. Tomando banho, observe a água, a água fria caindo sobre você, o toque da água, a frieza, o arrepio que dá na sua espinha – observe tudo, “hoje, amanhã, sempre”.

Finalmente chega o momento quando você pode observar até mesmo seu sono. Esse é o máximo no observar. O corpo vai dormir e ainda fica um observador desperto, olhando silenciosamente o corpo profundamente adormecido. Isso é o máximo da observação. Agora mesmo exatamente o oposto é o caso: seu corpo está desperto, porém você está dormindo. Então você estará desperto e seu corpo estará dormindo. O corpo precisa de descanso, todavia sua consciência não necessita de nenhum sono. Sua consciência é consciência: isso é atenção, essa é sua própria natureza.

Quando você se torna mais alerta você começa a criar asas – então todo o céu lhe pertence. O homem é um encontro da terra com o céu, do corpo e da alma.

Osho, em "The Way of the Buddha: The Dhammapada"
Fonte: Osho.com
Imagem por anitakhart

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*No mesmo livro, Osho explica assim essas palavras:
"Aes dhammo sanantano – Buda repete isso várias e várias vezes – 'essa é a lei eterna'. O que é a lei eterna? Somente o amor dissipa o ódio, somente a luz dissipa a escuridão."

sexta-feira, 15 de julho de 2011

PARA LER E PENSAR - PALAVRAS DE OSHO

Seja espontâneo
Posted: 11 Jul 2011 05:50 PM PDT
Quando age, você sempre toma por base o passado. Você vive de acordo com as experiências que acumulou, age com base nas conclusões a que chegou no passado — como pode ser espontâneo?

O passado domina e por causa dele você nem sequer consegue ver o presente. Seus olhos estão presos ao passado, a neblina do passado é tão espessa que é impossível enxergar alguma coisa. Você não consegue ver nada! Está quase cego — cego por causa da neblina, cego por causa das conclusões que tirou no passado, cego por causa do conhecimento.

O homem instruído é a criatura mais cega deste mundo. Porque ele vive com base nos conhecimentos que tem, em vez de avaliar as circunstâncias. Ele simplesmente continua vivendo mecanicamente. Aprendeu alguma coisa; isso passa a ser um mecanismo embutido dentro dele e ele age de acordo com isso.

Há aquela história bem conhecida:
Existiam dois templos no Japão, um inimigo do outro, pois sempre existiram templos ao longo das eras. Os sacerdotes desses dois templos eram tão hostis um ao outro que nem sequer se olhavam no rosto. Se se cruzassem nas ruas, simplesmente não se olhavam. Se se cruzassem na rua, paravam de conversar; havia séculos que os sacerdotes desses dois templos não se falavam.

Mas ambos tinham um garotinho — para servi-los, levar recados. Os dois sacerdotes tinham receio de que os garotos, afinal eram só garotos, pudessem ficar amigos.

Um dos sacerdotes disse ao seu menino: — Nunca se esqueça de que o outro templo é nosso inimigo. Nunca fale com o garoto do outro templo. Eles são gente perigosa... fique longe deles. Fuja deles como o diabo da cruz!

O garoto ficou curioso... porque ele já estava cansado de ouvir longos sermões. Não conseguia entendê-los. Os sacerdotes liam escrituras estranhas, ele não compreendia aquela língua; problemas profundos, existenciais, eram discutidos. Não havia ninguém com quem brincar, ninguém com quem conversar. E quando lhe diziam para não falar com o menino do outro templo, uma grande tentação brotava dentro dele. É assim que surge a tentação. Nesse dia ele não conseguiu evitar de falar com o outro menino. Quando o viu na rua, ele perguntou: — Aonde você está indo?

O outro menino era um tanto filosófico; de ouvir grandes filosofias ele ficara filosófico. Respondeu: — Indo? Não há ninguém que venha ou que vá! Isso acontece... para onde quer que o vento me leve... — Ele tinha ouvido o mestre tantas vezes que era assim que vivia um buda, como uma folha morta, seguindo ao sabor do vento. Então o menino disse: — Eu não sou nada! Não existe ninguém que faça algo, então como posso ir a algum lugar? Que bobagem é essa que você está falando? Sou uma folha morta. Vou para onde quer que o vento me leve...

O outro menino encarava-o sem entender nada. Não conseguiu sequer articular uma resposta. Não conseguia encontrar nada para dizer. Estava de fato embaraçado, envergonhado, e pensava: "Meu mestre tinha razão ao aconselhar-me a não falar com essa gente, são gente perigosa. Que conversa é essa? Só perguntei para onde ele ia. Na verdade, eu até já sabia para onde ele estava indo, pois nós dois íamos para o mercado comprar hortaliças. Bastaria dizer isso."

O menino voltou ao templo e contou ao mestre: — Me perdoe. Você me proibiu, mas eu o desobedeci. Na verdade, sua proibição aguçou minha curiosidade. Essa é a primeira vez que converso com aquela gente perigosa. Só fiz uma pergunta: "Aonde você vai?" e ele começou a dizer umas coisas estranhas: "Não existe ir nem vir... Quem vem? Quem vai? Sou o vazio absoluto", ele disse, "sou uma folha morta. E aonde quer que o vento me leve..."

O mestre disse: — Eu disse a você! Agora, amanhã fique no mesmo lugar e, quando ele passar, pergunte a ele novamente: "Aonde está indo?" Quando ele disser essas coisas, você diz simplesmente: "É verdade. Você é uma folha morta, assim como eu. Mas, quando o vento não está soprando, para onde você vai? Aonde pode ir?" Só diga isso, e ele ficará embaraçado, tem de ficar embaraçado, tem de ficar frustrado. Estamos sempre discutindo e essa gente nunca conseguiu nos vencer em nenhum debate. Então amanhã não será diferente!

O garoto acordou cedo, decorou sua resposta, repetiu-a muitas vezes antes de sair. Então ficou esperando no local onde o outro atravessaria a rua, repetindo mentalmente a resposta, ensaiando, até avistar o garoto se aproximando. Então disse: — Agora veremos!

O menino chegou mais perto e o outro perguntou: — Aonde está indo? —, com esperança de que agora ele teria sua chance...

Mas o rapazinho disse: — Aonde quer que as pernas me levem... — Não mencionou nenhum vento, não falou do vazio, nem da questão do não-fazer... E agora, o que ele faria? A resposta que decorara não ia fazer sentido. Não podia falar sobre o vento. Desacorçoado, com vergonha por ser tão burro, ele pensou: "Esse menino de fato sabe umas coisas estranhas. Agora ele disse: 'Aonde quer que minhas pernas me levem.'"

Então ele voltou a procurar o mestre. Este respondeu: — Eu disse para não falar com essa gente! Eles são perigosos! Faz séculos que sabemos disso. Mas agora é preciso fazer alguma coisa. Amanhã, você pergunta novamente: "Aonde está indo?" e, quando ele disser: "Aonde quer que minhas pernas me levem", diga a ele: "Se você não tem pernas, então...?" É preciso fazê-lo calar a boca de um jeito ou de outro.

Então, no dia seguinte, o menino perguntou outra vez onde o outro ia e esperou a resposta.

O outro disse: — Estou indo ao mercado buscar hortaliças.
As pessoas costumam viver com base no passado — e a vida continua em constante mudança. A vida não tem obrigação nenhuma de confirmar suas conclusões. É por isso que ela é tão confusa — confusa para a pessoa instruída.

A pessoa já tem todas as respostas prontas, o Bhagavad Gita, o Alcorão, a Bíblia, os Vedas. Já se abarrotou de tudo isso, sabe todas as respostas. Mas a vida nunca levanta as mesmas questões; por isso a pessoa instruída nunca acerta o alvo.

Osho, em "Consciência: A Chave Para Viver em Equilíbrio"
Imagem por ClickFlashPhotos / Nicki Varkevisser

quarta-feira, 13 de julho de 2011

POESIA - VINICIOS DE MORAIS

Fonte : Instituto Consciência / Mô Nascimento


PROCURA-SE UM AMIGO...

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar. Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer. Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos. Que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim. Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.


Vinícius de Morais

sábado, 9 de julho de 2011

PARA LER E PENSAR - PALAVRAS DE OSHO

Em busca de um fantasma
Posted: 07 Jul 2011 06:09 PM PDT
Perguntaram a Osho:
Sei que não sou meu corpo, mas ainda assim quero amar e ser amada. O amor espiritual é possível neste mundo apodrecido?
Este mundo não está apodrecido. Este mundo está repleto de Deus, ou, nas palavras de Buda, repleto de nada, o que dá no mesmo. Se alguma coisa está apodrecida, é a sua mente. E, sim, é muito difícil encontrar amor com uma mente apodrecida.

E nunca pense em termos de amor espiritual e material — amor é simplesmente amor, ele não é nem material nem espiritual. Como o amor pode ser material ou espiritual? Amor é simplesmente amor. Amor significa a alegria de compartilhar sua vida com alguém.

Sim, seu corpo e seu ser podem ser compartilhados, mas compartilhar é amor, não o que você compartilha. Compartilhar é amor; assim, todo amor é simplesmente amor.

Porém, posso perceber que o problema deve estar vindo de sua educação: Sei que não sou meu corpo... Quem lhe disse isso? Você é mais seu corpo do que sua mente. Você é mais seu corpo do que seu suposto eu. É isso o que Ikku está dizendo: que o eu é uma entidade falsa, apodrecida.

E a mente é apenas um fenômeno condicionado pela sociedade. Seu corpo é mais verdadeiro do que sua mente e seu eu; seu corpo pertence à existência.

Entretanto, você deve estar contaminada pelos sacerdotes, que dizem que você não é o corpo. Eles criaram uma dicotomia em todo mundo, que "Você é a alma, e como uma alma pode se rebaixar tanto a ponto de amar um corpo?" E por aqui você não encontrará fantasmas, mas pessoas que vivem em seus corpos, que são seus corpos.

É por isso que você não pode encontrar alguém para amar e ser amada — você está em busca de um fantasma. E se você realmente deparar com um fantasma não acho que você gostará dele. Mas você está ansiando por isso.

Foi-lhe dito para condenar seu corpo, e se você condená-lo e não gostar dele você acha que alguém vai gostar dele? Se mesmo você não gosta dele, quem vai gostar? Ao gostar de seu corpo e amá-lo, você cria uma situação na qual uma outra pessoa pode também amar o seu corpo. Mas você cria esse ambiente, esse clima.

Um homem ou uma mulher que odeia seu próprio corpo... e é assim que todos vocês, no fundo, odeiam, pois desde o princípio lhes disseram para odiar o corpo — o corpo é algo feio, não-espiritual. Foi-lhes ensinado que o corpo é o inimigo.

O corpo é o templo de Deus, e neste corpo vive aquele nada do qual Buda falou, vive aquela semente da iluminação que eu insisto em falar. Este corpo contém sua maior satisfação, contém Deus. Não o condene, do contrário será impossível.

Osho, em "Vá Com Calma — Discursos Sobre o Zen-Budismo"
Imagem por pasukaru76

domingo, 3 de julho de 2011

A CORAGEM DE AMAR - CONCEPÇÃO DE OSHO

A coragem de amar

Link to palavras de Osho

A coragem de amar
Posted: 01 Jul 2011 07:48 PM PDT
Se ama profundamente, você não sente medo. O medo é uma negatividade, uma ausência. Isso tem que ficar profundamente entendido. Caso contrário, você nunca vai entender a natureza do medo.

É como a escuridão. A escuridão não existe, ela só parece existir. Na verdade, ela é só ausência de luz. A luz existe; apague a luz e a escuridão aparece. A escuridão não existe, você não pode acabar com ela. Faça o que fizer, você não pode acabar com ela. Não pode trazê-la, não pode projetá-la.

Se quiser fazer alguma coisa com a escuridão, terá que fazer alguma coisa com a luz, pois só podemos estabelecer relação com algo que tenha existência própria. Apague a luz e a escuridão se fará presente; acenda a luz e a escuridão desaparecerá — mas você fará algo com a luz. Você não poderá fazer nada com a escuridão.

Medo é escuridão. É ausência de amor. Você não pode fazer nada com relação a ele, e quanto mais fizer mais amedrontado vai ficar, pois mais você achará impossível. O problema vai ficando cada vez mais complicado. Quanto mais você brigar com a escuridão, mais sairá derrotado. Você pode empunhar uma espada e matar a escuridão: isso só servirá para deixá-lo exausto. E finalmente a mente pensará, “A escuridão é muito poderosa, por isso me derrotou”.

É aí que a lógica falha. É absolutamente lógico — se você luta contra a escuridão e não consegue vencê-la, não consegue destruí-la, é absolutamente lógico pensar que a escuridão é muito, muito poderosa. Você é impotente diante dela. Mas a realidade é justamente o oposto. Você não é impotente; a escuridão é impotente. Na verdade, a escuridão não está ali, é por isso que você não pode derrotá-la. Como você pode derrotar alguma coisa que não existe?

Não lute contra o medo; do contrário, você ficará cada vez mais amedrontado e um novo medo invadirá seu ser: o medo do medo, que é muito perigoso. Em primeiro lugar, o medo é uma ausência e, em segundo, o medo do medo é o medo da ausência da ausência. Então você enlouquece.

O medo nada mais é que ausência de amor. Faça algo com amor, esqueça o medo. Se você ama bastante, o medo desaparece. Se ama profundamente, você não sente medo.

Quando amou alguém, mesmo que por um único instante, você sentiu medo? O medo não existe em nenhum relacionamento em que, mesmo que por um único instante, duas pessoas se amaram profundamente e aconteceu um encontro, elas entraram em sintonia — nesse momento não se sente medo.

É como se a luz simplesmente estivesse acesa e a escuridão desaparece — eis a chave secreta: ame mais.

Se você sente que existe medo em seu ser, ame mais. Seja corajoso ao amar; tenha coragem. Seja aventureiro no amor; ame mais e ame incondicionalmente, porque quanto mais você ama menos medo sente. E, quando eu digo amor, quero dizer todas as camadas do amor, do sexo ao samadhi.

Osho, em "Coragem: O Prazer de Viver Perigosamente"
Imagem por Skley